5 de dezembro de 2014

Coruja Cult #1: Tim Maia - Da Tijuca para o mundo

Se há uma palavra que possa descrever Tim Maia, essa palavra é: intenso. A intensidade com que o cantor vivia cada momento de sua vida, quando tentava se sobressair contra quaisquer dificuldades era sempre extrema. Os extremos na vida dele também foram recorrentes: do jovem Tião entregador de marmita da Tijuca ao Rei do Soul brasileiro em 1970 e, depois disso, ao seu declínio causado por si mesmo - pela sua arrogância e seus excessos. Assim, Sebastião Rodrigues Maia é descrito com detalhes, durante 2h20min na sua cinebiografia, baseada no livro Vale Tudo - O som e a Fúria de Tim Maia.

O filme conta desde a sua infância até seu último verso cantado em seu último e fatídico show no Teatro Municipal de Niterói, em 15 de março de 1998. “Vou pedir...”. Em seus primeiros anos, na Tijuca, Tião da Marmita era o caçula dentre 11 filhos, e tentava buscar o seu espaço no mundo. Desde cedo, lidava com situações que moldaram o seu caráter explosivo e tão volátil. Volátil num sentido literal: de mudar de opinião sem o menor pudor e voltar a uma opinião antiga num simples piscar de olhos. Isso é visto claramente durante a exibição daquilo que foi chamado da sua “fase racional”, quando Tim Maia virou um adepto da Cultura Racional. 


Na adolescência, a formação do quarteto vocal Os Sputnicks parecia algo muito promissor, mas o tempo e alguns fatos marcantes – como a morte do pai e “o dia em que a música morreu” - mostraram que nem tudo seria fácil para ele. Mais tarde, dos Sputniks saíram grandes nomes da música, como Erasmo Carlos e Roberto Carlos, alguns personagens presentes na vida de Tim. Talento não lhe faltava, mas, como ele mesmo diz, “Desde que eu saí daquele avião, parece que todo o mundo à minha volta está querendo me sacanear”, quando viveu durante um tempo em Nova Iorque. Durante o seu tempo lá, teve contato com as raízes da música, as raízes do soul, da música negra; influências que lhe deram a capacidade de compor tanto baladas românticas quanto seus suingues, ambos com uma riqueza lírica que ia além das intensas batidas de guitarra e dos metais que sempre tocavam exatamente o que Tim Maia queria - elementos marcantes na sua música.

Tim Maia ficou conhecido como o Rei do Soul brasileiro. Nesse quesito, o filme demonstra todas as angústias, dúvidas e incertezas que acabaram influenciando as suas letras, vindas do fundo de sua alma. Na película, estão os processos de criação musical de Tim, que provam que ele simplesmente foi o que foi não pela quantidade de músicas, pela sua obrigação de escrever algo novo. Pelo contrário: ele não se importava, não via uma obrigatoriedade na música, algo que o diferencia de outros cantores da época. Tim Maia escrevia com a alma, e isso fez dele esse grande músico que até hoje toca nas rádios no sábado à noite.

Sua vida pessoal era um absoluto caos. Talvez por ter tido uma origem humilde, ele pareceu sempre querer se provar alguém na vida. Não um simples mulato que não tinha oportunidades, mas um mulato que poderia fazer o que quisesse e que ainda teria sucesso. E assim foi. Seu brilhantismo musical acabou sustentando-o durante todas as suas idas e vindas entre Rio de Janeiro, São Paulo e até mesmo Inglaterra. Ao mesmo tempo que o seu ego e seus sentimentos imediatistas queriam levá-lo longe, o mundo das drogas aparece no filme como o maior vilão de sua trajetória. Um vilão que ele acolheu como seu aliado, mas que ao fim de tudo mostrou-se extremamente danoso à sua saúde mental, física e musical.

A temática séria tem em si momentos de alívio cômico, sempre presentes nas falas do protagonista, que parecia ver tudo com um olhar meio desconfiado, e ao mesmo irreverente. Momentos como a parte em que o cantor droga todos em uma gravadora serviram para aliviar a tensão criada pelo seu sentimento de solidão extrema, pelo qual grandes compositores já passaram. “Se por fora Tim Maia exibia aquela enorme casca de rinoceronte, havia um coração mole por baixo daquilo tudo”, como disse Fábio, o narrador da história, músico que na narrativa acompanhou Tim Maia durante muitos anos e que também foi um dos afastados pelo excêntrico modo de ser do Rei do Soul. Modo excêntrico que, ao fim de tudo, acabou isolando-o de todos aqueles que um dia haviam gostado dele. Músicos, gravadoras, família, amigos. Tudo o que restava era simplesmente a sua genialidade, que acabou levantando-o sempre que tudo parecia estar dando errado. Isso acontecia porque ele era especial (genial). Simplesmente especial (genial). Assim como a sua alma, o que ela refletia- a sua música- era algo único e inimitável.

Entre altos e baixos em sua carreira, uma das cenas mais marcantes certamente é aquela em que Tim Maia é encontrado pela polícia em sua casa delirando absurdamente após o consumo de cocaína e chega até mesmo a pedir sua própria prisão. Todos esses momentos de ascensão e decadência são acompanhados de uma excelente trilha sonora, que conta com vários elementos de sua extensa discografia e que encaixam muito bem na narrativa, o que demonstra o quanto de si ele colocava em suas composições. 

Elementos como Fábio e Janaína, vivida por Aline Morais, funcionam como uma síntese de várias pessoas que viveram ao lado de Tim durante toda a sua vida, e que foram agrupados de uma maneira genial e que muitas vezes serviram de inspiração para as letras que ele compôs.
Tim Maia era excêntrico. Egocêntrico. Inconsequente. Fanático. Mas acima de tudo, um gênio.

Ao final de sua trajetória, Sebastião Rodrigues Maia, o Tião da Marmita, o Rei do Soul encontrou algo que há tempos procurava: o sossego. 

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