20 de outubro de 2014

Sorrisos perdidos de uma terça-feira

Foto tirada pelo fotógrafo vencedor na categoria "Sorrisos", do Sony World Photograph Awards 2011. Na imagem há um homem com as pernas amputadas vendendo fitas de Nosso Senhor do Bonfim, na Bahia
Você sabe bem, quando tudo passa rápido demais ao seu redor e apenas você está no mesmo ritmo de alguns detalhes. Quando todo mundo parece correr e estão rápidos demais para notar as folhas dançando com o vento e caindo por aí.
Só você está no ritmo bom o suficiente para as notar. Você sabe bem, quando as buzinas de um protesto se misturam ao som das buzinas dos carros e com a música clássica do homem que faz um artesanato. Ele está parado olhando a todos e, de repente, lhe sorri porque você não está tão rápida para não o notar e nem tão vagarosa como quem faz um artesanato, ao som de música clássica, e buzinas de manifestações, e carros.
Você sabe bem porque sorriu de volta, afinal, até outro dia era ontem e ontem parece que foi mês passado. Tem ontem que parece daqui a muito tempo. Aquele instante é tão fugaz que ninguém jamais conseguiria segurá-lo na memória, nunca alguém lembrou para sempre do homem que sorriu em uma tarde de terça-feira enquanto fazia artesanato, enquanto alguém ou você não andava devagar o suficiente para estar rápido e nem rápido o suficiente para estar devagar.
Você sabe bem, daqui uns dias já vai ter sido hoje há mais de um ano. Tem sempre que parece que nunca foi e tem nunca que parece ser para sempre. E você terá andado assim, todo confuso na certeza de que logo se acerta, sem saber o que querer do tempo e o que do tempo pode tirar. Outro homem que faz artesanato sorrirá e você sorrirá de volta porque de alguma forma está bem com o tempo e o tempo está bem com você, todos ficam exatamente onde se deixaram permanecer e, juntos. Não estagnam, também não tentam acelerar.
Tudo jamais será igual, porque nesse dia a riqueza de detalhes te permitiu ver tudo! Tudo, enquanto você pensava não ligar a mínima para o que o tempo queria de você ou o que você queria do tempo. Você sabe o que quer de você, e basta.  Agora, se o mundo acabar antes desses outros sorrisos, que você e ninguém vai lembrar por ser apenas um segundo de toda a sua existência, se o tempo passar mais vagaroso ou mais veloz que o normal, saiba que a vida é mesmo feita de frases mal feitas e sorrisos bobos que se perdem no ar.
P.S.:Texto escrito há mais de um ano, data original de publicação em 09/10/2013
Por: Bruna Meneguetti e uma palhinha do André Cáceres

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