16 de junho de 2014

A felicidade é egoísta

Acordou suspirando de prazer, a melhor coisa era dormir até acordar. Não pensava isso à toa, era fim de semana. Fechou mais uma vez os olhos aproveitando o silêncio, de certo podia dizer que era uma pessoa que prezava muito por sua própria felicidade.
Sei que a primeira vista tal informação parece soar estranha e ela “encaraminholava” sobre como tal jeito de raciocinar era egoísta. Tinha certeza disso, mas nunca conseguiu expressar sua maneira de ver o mundo a ninguém.
Às vezes, ela achava que toda essa história de prezar muito pela felicidade só atrapalhava. Se não estava muito feliz é porque estava triste e isso, de fato, atrapalhava muito. Levantou-se um pouco mole, podia jurar que sempre tentava não deixar de ficar feliz por qualquer coisa, porque sabia que tal atitude poderia deixá-la triste e ela prezava muito por sua própria felicidade. De qualquer jeito, tinha os seus lapsos, ficava triste por coisas extremamente bobas e, de vez em quando, tinha tristezas inconscientes.
Saiu andando pela casa. “Todo mundo tem aquela voz aguda ou grossa que diz os seus medos mais insanos em momentos que não se está bem”, refletiu. Mas é por prezar muito pela sua felicidade, que ela dava um jeito de esquecer todos esses fatores.
Depois de tal reflexão, permitiu-se indagar se poderia dizer que era possível esquecer enquanto ainda lembrava. Esquecia em determinados momentos, mas, quando parava e pensava, poderia lembrar-se. Era certo dizer que esqueceu-se de algo do qual sabia que não havia apagado completamente da memória, sem ter mais vestígio algum?
E o contrário, poderia se esquecer de algo do qual não se lembrava? Porque, naquele exato minuto, esqueceu-se do que estava fazendo na cozinha. Mas, como se esquece de algo do qual não se lembra?
Deu de ombros, isso não importava, porque era uma pessoa que prezava muito por sua felicidade pessoal. E, no momento, queria pensar nisso. Queria esquecer-se da questão que sabia que ainda podia lembrar.
Mas, voltando ao foco principal, sabia que era egoísta. Não conversava com alguém que não gostasse e não tratava mal as pessoas pelo mesmo motivo. Não queria tolerar pessoas ou situações que provocassem qualquer tipo de sentimento ruim.
Evitava situações ruins porque isso acabava com a sua felicidade. Sentou-se na cadeira e enterrou a cabeça entre as mãos, agora também pensava que era igualmente extremista. Odiava falar sobre coisas tristes, pois só a memória de algo ruim já fazia com que ela não ficasse 100% feliz e ela prezava muito por seu 100% de felicidade. Aliás, qualquer sentimento de infelicidade já significava que não estava completamente feliz.
Ao mesmo tempo, não queria que as pessoas das quais mais gostava ficassem próximas, pegando tristezas que não eram delas. Se não podia evitar tais situações, tentava ficar bem o mais depressa possível. Resumindo, não queria que as pessoas que adorasse ficassem tristes por sua culpa, porque isso a faria ficar triste e não podemos esquecer de que ela prezava muito por sua felicidade própria.
Devia ser por isso que todos os dias ela falava boa noite para o cobrador, apesar de ele estar com a mente distante ou muito mal humorado na maior parte das vezes. Pode parecer simpático, mas a verdade é que ela só prezava por sua própria felicidade.
De vez em quando o cobrador dava um oi animado. Às vezes sorria, saindo de um devaneio. E, de alguma forma, isso a fazia feliz. Sempre cumprimentava as pessoas porque isso faz elas se sentirem lembradas e não podia ter em sua memória um dia em que tratou muito mal alguém conscientemente e que não merecesse, porque ela prezava muito por sua própria felicidade. Mantinha as suas amizades, pois não queria ser sozinha no mundo, afinal, isso a deixaria infeliz.
Adorava ver duas pessoas conversando, beijando-se e rindo até cansarem-se, porque isso significava que ela também poderia estar em situação parecida. Ora, não sei qual é o espanto, ela apenas prezava muito por sua felicidade própria e quanto mais indícios tivesse de que ela era possível e alcançável por diversos meios e pessoas, melhor.
Deve ser por isso, aliás, que não suportava ver alguém sofrer. Ver alguém triste acabava com a sua felicidade, e ela prezava muito por ela. Queria um mundo mais justo, uma sociedade em que as coisas funcionassem e que as pessoas não fossem tão deprimidas. Mas não se iluda, é que em um mundo assim seria tão mais fácil ser feliz também.
Para ela, a própria felicidade era a coisa mais importante do mundo. Lamentava que as pessoas não dessem tanta importância para as suas próprias hoje em dia ou não fossem tão egoístas. Ao dizer isso em voz alta, pulou da cadeira. Ficou feliz ao lembrar-se do que não havia se esquecido que iria fazer na cozinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...