23 de março de 2014

Você tem uma visão tão estreita de mundo



Um dia apático, mas que grande confusão está hoje nesse dia maravilhoso. Pego o meu livro e ele me diz o tempo todo loucuras insensatas, que eu não saberia perguntar a mim mesma do nada. Fora dele e de tantos outros o mundo respira como se soubesse a verdade, uma verdade grosseira e um pouco conturbada.

Dentro do metrô, o vagão corria assim como a busca pelas verdades corre. E tudo estava bem enquanto ele corria, porque ninguém repara nas paredes enquanto o vagão corre. Ninguém repara nas diversas variáveis enquanto a vida segue, mas basta um tranco para perceber como as paredes daquele túnel são apertadas. O quanto elas estão próximas da janela e o quanto a janela está próxima da gente.  Elas poderiam facilmente esmagar alguém se não fosse o vidro impenetrável. Impenetrável? Ou a bolha de metal e vidro que mantém a gente longe da parede que corre?

E as verdades, seriam elas assim impenetráveis? Cada um carregando a sua dentro da bolha de metal? Estariam as pessoas se sentindo sufocadas quando parassem por um momento a incessante busca e percebessem que existem paredes, que nem sempre elas estão bonitas e limpas?

As paredes começam a vir em minha direção. Ou sou eu que vou na direção delas? Estou parada e elas também estão. Todos estão parados e ninguém parece perceber que as paredes estão se mexendo. Apesar de saber que fisicamente sou eu que corro, ninguém também parece ir em direção a elas. Ninguém parece querer saber de fato as diferentes versões e explicações.

Pensei que seria esmagada ali mesmo e que, pior, ninguém perceberia. Ninguém perceberia que muitas verdades poderiam esmagar. Mas o vagão começou a andar e as paredes agora apenas coexistiam com a velocidade do trem. Ou nós coexistíamos com a velocidade do trem? O trem não pode parar.

Saí da estação, o teto parecia descer em minha direção. Ou eu que parecia subir em direção a ele?  Têm vezes que é mesmo assim, a gente não sabe se está indo em direção a uma informação nova ou se é ela que está vindo em nossa direção. Talvez o fato é que estamos sempre indo um de encontro ao outro.

 Pensei que seria esmagada novamente, mas por sorte sai da escada antes que...  Antes que eu descobrisse que certa verdade que eu carrego estava errada? E se estivesse?

Fui até o local de destino pegar minha carteira de trabalho. Um deficiente visual estava na minha frente na fila, mas ele parecia me olhar e, pior, parecia me enxergar; era de uma incoerência sem precedentes.
E ele parecia dizer:
"Você tem uma visão tão estreita de mundo. Sua visão de mundo é tão estreita".

E eu olhava sem entender; porque ele não dizia nada e também não podia me ver. Nas ruas as pessoas passavam, não sei qual a novidade disso. E eu cheia de preocupações, com tantas certezas.  As pessoas passando cada vez mais próximas a mim, sussurrando ao meu ouvido:
"Você tem uma visão tão estreita de mundo".

         E eu sabia que era verdade porque eu não sei de nada. Eu tenho uma vaga noção do que talvez possam ser algumas verdades, tenho vaga noção daquilo que as pessoas consideram verdades absolutas e que despejam sobre mim. Ao mesmo tempo em que também não tenho uma visão clara de que moldes as pessoas esperam que eu me encaixe. Ao mesmo tempo que eu sei; para resolver algo é preciso ver além.


E eu quase podia ouvir, as paredes, as escadas, os cegos, todos eles sussurrando também para essas pessoas e para todo mundo que não consegue resolver algo:
- Sua visão de mundo é tão estreita.
E eu sabia que essa era uma verdade. Temos visões de mundo muito estreitas, sempre dá pra expandir mais e mais. Na volta leio meu livro de novo e ele me diz o tempo todo loucuras insensatas, que eu não saberia perguntar a mim mesma do nada.
Ele me questiona se o que eu considero verdade seja verdade para todo mundo. Alguns livros se fazem essenciais nas nossas vidas, alguns livros gritam:
- Você tem uma visão tão estreita de mundo.

E quando as paredes, os cegos, as pessoas e os livros começam a parecer querer te dizer as mesmas coisas, você tem que entender... É hora de tentar mudar. 

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