8 de setembro de 2013

Estranhamente familiar

Por André Cáceres

Uns dizem que ela matou o gato, outros afirmam que ela é a cura para o tédio. Albert Einstein garante que ela é mais importante que o conhecimento. Com certeza, é uma característica essencial para um bom jornalista. A curiosidade, acima de tudo, foi o combustível de Gay Talese em seu livro Fama e Anonimato. O mestre do jornalismo literário, também conhecido como new journalism, reuniu uma grande quantidade de reportagens em uma coletânea para traçar o perfil da cidade de Nova Iorque.

O jornalista americano, agindo como um verdadeiro flâneur em pleno século XX, busca informações que passam despercebidas em meio à correria da cidade grande. Gay Talese torna o familiar estranho e o estranho, familiar. Ao apurar quantas vezes o nova iorquino pisca em média ou quantos metros de fio dental são usados em um dia, ele revela fatos inesperados e surpreendentes. Por exemplo, em dias de chuva os suicídios são menos frequentes e as lavanderias lucram mais. Podem parecer questões irrelevantes, mas Talese as coloca de uma maneira dinâmica e interessante de modo a instigar a curiosidade do leitor.

O livro é dividido em três partes. Na primeira, vários anônimos notáveis são entrevistados, como o funcionário que vende bilhetes do metrô e colocou um aviso pedindo para que as pessoas sorriam; ou o filho de um dos maiores construtores de carrinhos para vendedores ambulantes da cidade; o homem que trabalha recuperando itens que caíram no mar; entre outras pessoas desconhecidas, porém extremamente interessantes. Na segunda parte, Gay Talese relata sua experiência durante a construção da ponte Verrazano-Narrows, descrevendo os operários, a hierarquia da obra e as pessoas afetadas pela construção, como o casal de amantes que teve de se separar e o dono de uma funerária que não queria a obra mas passou a lucrar mais após a chegada da ponte.

No final, vários perfis de pessoas notórias como o redator de obituários do New York Times são encaixados, mas o grande destaque é o de Frank Sinatra. O autor não pôde entrevistar o músico pois ele estava resfriado, e passou a relatar de que forma um simples resfriado em uma pessoa como Frank Sinatra pode afetar todas as pessoas à sua volta. Mesmo sem entrevistá-lo, consegue passar a imagem do homem por trás da celebridade, mostrando suas diversas facetas.

Tudo isso por meio de uma linguagem estética e literária, fazendo a realidade parecer ficção e inovando no fazer jornalístico. Mesmo que o livro não possua uma unidade, Gay Talese consegue prender o leitor do começo ao fim, respondendo perguntas que nunca foram feitas e questionando a maneira de perceber o mundo ao redor. A leitura de Fama e Anonimato é uma verdadeira experiência de observação e, claro, curiosidade.

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